terça-feira, 10 de julho de 2012

Conflitos Internos - Personagens Rivais

Muito já é dito sobre o valor de um bom histórico para o personagem, sobre as relações entre os membros de um grupo, sobre como eles são vistos pela sociedade e seus inimigos. Mas o que acontece se, dentro do próprio grupo, há inimizades, rivalidades? A resposta pode ser fracasso, confusão e atraso de jogo, mas pode ser também boas histórias, momentos interessantes de "roleplay" e muita diversão. Basta ser feito de maneira correta e entre pessoas capazes de valorizar a diversão do grupo como um todo.

É muito mais fácil criar histórias em que todos os personagens são amigos e companheiros, que se ajudam por admiração, respeito e amor mútuos. Essa é a forma mais comum de manter um grupo de personagens unidos e talvez a mais eficiente, mas com certeza não é a única e nem a mais criativa ou divertida, pelo menos, não para mim. Eu sempre gosto de temperar as coisas um pouco, nem tudo branco, nem tudo preto, mas alguns tons de cinza.

Não é incomum, na literatura que inspira nossos jogos, encontrar personagens que são inicialmente antagonistas e tem interesses conflituosos acabarem se aliando por um motivo ou outro. As vezes o antagonista que captura o herói acaba percebendo que o protagonista está lutando por algo maior e acaba se aliando a ele. Ou então, dois rivais se unem para superar desafios comuns até que chegue a hora de disputar entre si. Inimigos pode fazer uma aliança para lutar contra algo maior, que ameaça a ambos. Enfim, as possibilidades para esses personagens antagônicos trabalharem juntos podem deixar qualquer grupo mais interessante, dando uma história mais profunda entre seus membros. Quem sabe, alguma hora, todos no grupo não tenham que decidir em que lado ficarão?

Para ajudar a introduzir esse tipo de relação na sua mesa, fiz uns tópicos para tratarmos do assunto. São algumas dicas rápidas para começar a pensar no assunto e a maneira como eu faço nos meus jogos e não uma receita de bolo infalível.

Disposição: Tenha certeza de que todo mundo envolvido no jogo está disposto a ter essa complexidade de relações ente os personagens. Apesar dessas relações antagônicas abrirem novas possibilidades de histórias, enriquecerem os momentos de "roleplay" da sessão e deixar os personagens mais realistas, alguns grupos não estão interessados nisso e querem apenas explorar ruínas antigas, matar monstros, pegar seu tesouro e conquistar a glória para seus personagens. As vezes elas já passam a semana inteira enfrentando antagonistas e só querem chegar na noite do jogo e matar alguns monstros. Como esses laços de relacionamento vão exigir mais dedicação dos jogadores, seja para interpretar, para criar históricos e para pensar em motivos para os personagens se ajudarem, é importante que todos no grupo estejam dispostos a dedicar tempo para isso, pois será necessário. Além disso, é importante que todos estejam de acordo com essa relação antagônica e que saibam que isso é apenas para enriquecer a história, para que ninguém pense que é algo pessoal entre os jogadores envolvidos.

Cooperação: Junto com os jogadores que interpretaram os personagens rivais ou inimigos, trabalhe em suas motivações, sua rivalidade e o motivo por estarem unidos, ainda que temporariamente. Pense em algo maior que a rivalidade e inimizade deles. Talvez um inimigo comum mais poderoso, um tesouro perdido que ambos cobiçam mas não conseguem encontrar sozinhos, um mestre comum que antes de morrer fez com que os dois prometessem algo, ou qualquer outra justificativa para que trabalhem juntos. Discutindo isso em grupo, vai fazer com que todos possam contribuir com ideias para aprimorar a história e deixar a ligação mais convincente. É importante que o motivo para se juntarem realmente os force a trabalhar juntos (não que isso impeça que, vez ou outra, eles entrem em conflito e disputem por algo) e não façam o grupo se desintegrar, pelo menos, não até eles não terem mais a motivação para ficarem juntos.

Hora de Parar: Saiba quando a relação já chegou ao seu limite e converse com os jogadores sobre uma forma de terminá-la. Mesmo com um motivo forte e consistente, vai chegar um momento que a razão pela qual os personagens acabaram se unindo vai ser superada. Preferencialmente, isso vai acorrer no desfecho de uma grande arco de história, talvez até mesmo da campanha. É hora para um desfecho na relação, do acerto de contas. Pode ser a hora em que os dois disputam até a morte pelo objetivo que os põe em lados opostos, a hora em que o grupo se divide e apoia ou um ou outro, ou o momento em que um percebe que o merecedor é o outro e se retira. Enfim, é um momento dramático, um bom desfecho para uma relação conturbada e complexa, com oportunidade para ótimas cenas de interpretação, talvez uma de ação também. Além disso, é possível que, com o tempo, esses rivais acabem se respeitando mutuamente e não sintam que precisem terminar a relação entre eles, podendo, até, se tornar verdadeiros amigos, afinal, salvaram a vida um do outro diversas vezes.

Recentemente, na minha campanha de The One Ring, tivemos o caso de uma certa rivalidade entre os personagens de dois jogadores quanto a liderança do grupo. Cado um tinha uma visão distinta do que a companhia deveria fazer e volta e meia entravam em conflito de opiniões. Eles se mantinham unidos por uma necessidade maior e porque tinham inimigos em comum. Mas era engraçado observar como a rivalidade dos personagens se refletia nos jogadores também. Acabou que um dos personagens morreu, e agora o jogador fez outro que é, praticamente, um defensor do antigo rival.

E na mesa de vocês? Já tiveram em um grupo personagens que não estariam unidos se não fosse por alguma circunstância especial? Que seriam rivais ou até mesmo inimigos se não fosse pelo que está ocorrendo na história? Conte para a gente como era e com foi que terminou essa história!

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3 comentários:

  1. Estou mestrando uma aventura de D&D para heróis, personagens bons que combatem o vilão que destruiu seu vilarejo. Tem dois NPCs que andam junto com os personagens dos jogadores e eu quero criar uma certa rivalidade entre os dois. Mas, o problema é que os dois são bons e estão combatendo o mal. Aí, estou com dificuldades de criar qualquer desentendimento entre eles. É um mago leal e bom e uma guerreira caótica e boa. Talvez a rivalidade comece nesta diferença entre caos e ordem né? Alguma dica para o caso?
    Obrigado!
    Felipe Vilhena.

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    1. Acho que é por aí mesmo que você disse, ver a questão da metodologia com que os dois combatem o mal. Um é ordeiro, deve ser metódico, obedecer às leis, ser honrado. O outro, sendo caótico, pode ignorar isso e usar métodos mais escusos para combater seus inimigos. Ou quem sabe a guerreira não confia muito em magia, ou um suspeito que o outro tem segundas intenções. Quem sabe um é apaixonado pelo outro mas não sabe demonstrar e age como uma criança, provocando e perturbando o outro.

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